Aventura 110: O avatar de Myrkul

20 Kythorn, 1357 DR (Ano do Príncipe)

Os heróis saem do lago, todos encharcados batendo os dentes com o frio daquela manhã de primavera na floresta. Erevan invoca um vento morno e seca as roupas e os cabelos de todos.

O pescador sentado na margem do lago se apresenta como Elminster Aumar, e disse que os procurava há semanas. Ele os convida para sua torre, e no caminho esclarece que estavam em Shadowdale, na região das Dalelands.

Durante o chá com biscoitos, o sábio conta que a Damara havia sido invadida pelas forças da Vaasa há três meses, e que o Rei Virdi Bloodfeathers havia sido morto na batalha final. Ele os estava procurando pois haviam sido indicados por seu velho amigo Doust Sulwood. Quando o procurou para lidar com supostas aparições da morte em uma capela de Helm ali perto, o antigo Lorde de Shadowdale disse que deveria procurar especialistas no assunto: a Companhia do Milagre.

Segundo Elminster, muitos anos atrás um paladino de Helm, após uma vida de fervorosa devoção ao deus dos guardiões, foi enterrado em uma clareira ao norte de Shadowdale, na beira da estrada para Hillsfar. Helm em pessoa apareceu quando do enterro de Sir Duncan Trueblade e o levou para Everwatch, sua torre de vigia que flutua sobre a Casa da Tríade no plano de Celestia.

Peregrinos começaram a visitar a tumba em busca de iluminação e do caminho para ser digno diante dos olhos de Helm, e logo uma capela foi construída sobre a tumba de Sir Duncan. Muitos dos mais devotos seguidores de Helm visitavam a capela no final de suas vidas, o que chamou a atenção do Grande Guarda. Reza a lenda que o deus consagrou uma das várias arcadas no templo, permitindo que os mais devotos de seus seguidores pudessem encontrar nela um caminho para Everwatch.

No mês passado, peregrinos e viajantes que passavam pela capela relataram a aparição da própria morte, e pediram a ajuda do sábio de Shadowdale para lidar com o problema. Elminster pede então que investiguem a capela, o que aceitam prontamente em troca de ajuda para chegar na Damara em segurança através de um portal.

Elminster então leva Fajr até a casa de sua amiga Storm Silverhand para que a genasi pegasse emprestadas algumas roupas mais adequadas ao clima de Faerûn, e as duas logo se tornam amigas.

21 Kythorn, 1357 DR (Ano do Príncipe)

O grupo fica hospedado na torre de Elmister e parte na manhã seguinte depois de Fajr envia um recado para sua mãe através de seu gênio, alertando os Guardiões dos Nove Selos para o sofrimento das almas torturadas no jardim de Vermissa.

Depois da atmosfera reconfortante e familiar de Shadowdale e da torre de Elminster o grupo pega a estrada e penetra na penumbra soturna dos bosques que cercam a vila. Há muitos meses não andavam sob árvores como aquelas. As selvas de Sahu eram quentes, verdejantes e cheias de vida, o zumbido constante de insetos, anfíbios e o canto das mais diversas aves preenchendo o ambiente. A floresta de Cormanthor era uma besta completamente diferente.

A primavera que havia chegado em todo seu esplendor nos campos e fazendas que deixaram para trás não parecia não ter ainda forças para vencer o inverno que teimava em permanecer sob as densas copas dos freixos e faias. Um vento cortante assobiava por entre os galhos e folhas, complementado pelo canto de corujas e pardais.

Passada a grande curva na estrada ladeada por carvalhos indicada por Elminster não mais era possível ouvir o som dos pássaros. O vento também havia cessado, e um silêncio sepulcral tomou conta da floresta. A temperatura havia caído vários graus, e a respiração de todos formavam pequenas nuvens de vapor. Um caminho pavimentados com pedras se separava da estrada, subindo uma elevação. De uma estaca cravada no chão pendia uma placa de sobre com um símbolo de uma manopla gravada com um olho atento.

A medida que seguiam pelo caminho o ambiente ficava inexplicavelmente mais escuro e frio. Ao final da ladeira avistaram árvores retorcidas pendendo baixo sobre uma igreja de pedra, rangendo sinistramente com ventos inexistentes. Teias de aranha grossas pendiam do telhado da construção, e no gramado à esquerda da construção podiam ver algumas lápides em um pequeno cemitério delimitado por uma cerca baixa de ferro retorcido. As pesadas portas de carvalho, gravadas com o mesmo símbolo da manopla visto anteriormente, estavam entreabertas, e na soleira podiam ver a figura decapitada de um homem vestindo pesada armadura de aço.

Postada sobre o corpo está uma figura vestida em uma longa e esfarrapada mortalha negra. Um capuz cobre a parte superior de seu rosto, mas é possível ver os dentes amarelados de um crânio sorrindo em meio às sombras do manto. Longos dedos de ossos seguram com firmeza o cabo de madeira de uma pesada foice de aço opaco. Apesar dos ossos não se mexerem, um sussurro se forma atrás da mandíbula, ecoando pelas árvores ao redor.

“Cobaias para o Senhor dos Ossos…”

Outras figuras esqueletais envoltas em mortalhas negras empunhando foices saem das sombras ao redor da igreja e convergem na direção do grupo.

Utilizando de poderosos feitiços de luz, o grupo despacha os mortos-vivos. Erevan conversa com as árvores da clareira e elas o alertam para a presença do Snehor dos Ossos dentro da capela.

Passando pelas grandes portas de carvalho chega-se na ante sala da capela. Estátuas de famosos paladinos de Helm adornam os quatro cantos do aposento: Sir Minereth Nightbane, Sir Marten Sunward, Ethanna a Iluminada, e Sophie Brightshield.

Alguns bancos de madeira para peregrinos cansados estão encostados nas paredes. Sobre eles há mais corpos decapitados. Outro par de portas de carvalho levam para a nave principal da capela.

Três fileiras de bancos permitem que os visitantes contemplem o altar simples localizado sob um grande vitral que retrata Helm em posição de vigilância no alto de uma torre flutuando entre as nuvens. Anjos com asas metálicas trajando armaduras e empunhando pesadas espadas parecem voar ao seu redor. Cinco corpos decapitados estão sentados nos bancos, alguns deles ainda segurando os relicários de Helm que deviam estar empunhando enquanto rezavam para seu deus. Atrás do altar uma escada de pedra em espiral leva para o subsolo da capela.

Flutuando ao redor da sala estão vários crânios envoltos em chamas negras. O formato do fogo lembra o símbolo sagrado de Myrkul. Vários esqueletos andam pela sala. Naugrim invoca o poder de Marthammor Duin e ajugenta os crânios, mas não antes que eles chamuscassem o grupo com explosões de chamas negras.

Depois que todos os esqueletos foram destruídos, Tau percebe que os trapos espalhados pelo chão da capela são os trajes que eram usados pelos esqueletos que haviam enfrentado, e que os crânios flamejantes eram as cabeças das pessoas decapitadas.

Ao descerem as escadas começam a sentir um cheiro de terra que remete a covas recém escavadas. Lacraias, besouros e outros insetos rastejantes infestam os degraus de pedra, mas parecem abrir caminho para os passos de Akuna.

As escadas terminam no centro de uma câmara oval. Colunas de mármore formam oito arcadas em círculo ao redor da sala. Um sarcófago guarda os restos mortais de Sir Duncan.

Uma grande figura encapuzada está diante de um cadáver mutilado e pendurado nas colunas por correntes e cordas. Ela se vira e diz lembrar da Companhia do Milagre, e alerta para não voltarem a se intrometer nos assuntos de Myrkul, e Senhor dos Ossos, atacando com sua ameaçadora foice.

Erevan assume a forma de uma demônia de seis braços enquanto seus companheiros castigam o avatar do deus da morte com poderosas magias.

O combate é decidido quando Fajr usa magia para animar um punhado de moedas, que voam na direção de Myrkul e o golpeiam com velocidade, dissipando sua forma física em uma explosão de energia negra. O clima opressivo e o frio sobrenatural se dissipam com a derrota do avatar.

Os corpos dos que pereceram na capela são enterrados com um ritual simples mas digno, e a capela é consagrada novamente.

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