Interlúdio: As semanas finais em Sahu

Neurion Shadowlord

Alguns dias antes de embarcar para a ilha, Neurion chama Vizier Ebu e o Reitor Waleed e lhes conta tudo sobre seu encontro com Abdul Alhazred. O reitor fica entusiasmadíssimo com o relato sobre o necromante, seu livro e dimensões paralelas ocultas dentro da Universidade, mas em seguida o entusiasmo dá lugar ao medo ao compreender o que estão enfrentando.

Vizier apenas observa impassível. Neurion sabe, contudo, que só chegou até Abdul Alhazred pois contou não só com a ajuda de sua sombra, mas também, e provavelmente, porque Abdul facilitou sua passagem até sua dimensão reclusa. Não há garantias de que isso possa ser repetido por outra pessoa, talvez nem mesmo o próprio Neurion.

Ao final do relato Ebu diz que irá tomar as providências necessárias para garantir a segurança de Dhiliz.

Sardo Numspa

Na véspera da partida, Numspa procura o jovem Khaleed para se despedir. Ele pergunta pelo pequeno goblin na universidade, mas descobre com a professora de iniciação mágica, que o jovem só teria aula a tarde naquele dia e disse que estaria na Mesquita de Jisan agradecer as bênçãos que recebera.

Sardo se dirige para a Mesquita e ao chegar no jardim, vê o jovem sobre um tapete no templo de mármore recebendo o sacramento do imam.O jovem nota a presença do monge e sorrindo vem em sua direção:

“Irmão Sardo, como vai?”

Numspa fica feliz em ver o jovem fora das ruas, dedicado aos estudos. Abraçando Khaleed, passeia com ele pelos jardins, perguntando sobre suas aulas, sobre a nova rotina na universidade, tentando aproveitar aquele que deveria ser uma das últimas vezes que veria o pequeno goblin.”Eu tenho ido muito bem, segundo minha professora.  Estou interessado em transmutação. Quero poder transformar as coisas para melhor como o senhor fez comigo. O senhor acreditou em mim e não vou decepcioná-lo. Hoje falei com o imam e além do estudo de magia vou ajudar aqui na Mesquita de Jisan. Vou tentar dar uma chance a outros jovens e crianças que como eu, as vezes só precisam de alguém que acredite nelas.”

Khaleed faz uma pausa…” vou louvar a Jisan todos os dias por ela ter feito nossos caminhos se encontrarem.” Neste instante uma nuvem se forma sobre a Mesquita e grossas gotas de chuva perfumam o jardim com cheiro de terra molhada. De súbito um relâmpago ⚡ O raio atinge o ciclone das quatro quadras e faz a arma brilhar e flutuar no ar. Todos na Mesquita vão até o jardim e vêem a cena. Quando o brilho diminui, pequenos arcos de eletricidade envolvem um cajado prateado todo adornado com desenhos de nuvens e raios estilizados. No meio do cajado o olho de jisan brilha aberto. Um novo raio atinge o cajado e ele se transforma em um arco pequeno e prateado com o olho de jisan na parte superior da empunhadura. Uma corda feita de eletricidade une as pontas do arco e, curvando-o, surge uma seta elétrica que se dispara em direção à nuvem. Em seguida o arco vira de novo um cajado e flutua faiscando pequenos feixes elétricos e paira ao alcance das mãos de Numspa. Impressionado com o que entendeu como uma manifestação de Jisan, o monge estica as mãos para pegar o cajado.

Uma voz trazida pelo vento como uma brisa preenche o jardim enquanto a chuva cai:”Graças aos seus atos Sardo Numspa, muitos poderão ser salvos das trevas que prevalecem neste plano. Aceite está dádiva, o Ciclone de Jisan! – Um trovão ecoa – siga seu caminho, monge. Espalhe minha palavra e frutifique-os!” Os arcos de eletricidade reduzem até ficarem praticamente imperceptíveis, apenas aqueles com olhar mais aguçado como os de Numspa podem notá-los.

O imam grita: “louvada seja Jisan!! Está chuva é abençoada! Um milagre irmão Numspa!! Um milagre!!!”.  Ajoelhando-se humildemente, o monge agradece a dádiva de Jisan e promete silenciosamente ter sucesso na missão do dia seguinte.Todos se ajoelham em graças e acreditam que a fortuna e Jisan sorri para Sahu. A chuva continuou por meia hora. Durante todo o ano, no jardim cresceram muitas flores e frutas, e o mel mais doce, com poderes de cura, foi feito pelas abelhas da região.

Cerca de meia hora depois, os imams e noviços já tinham enchido várias ânforas com a chuva de água benta. Numspa passa o resto da manhã em companhia de Khaleed e depois de acompanhar o jovem até sua aula na universidade, se despede e segue até o pátio da instituição para praticar com o Ciclone de Jisan.

Tasseltuff

Com a aproximação da viagem para a ilha de Sahu, Tasseltuff decide negociar com Próspero para deixar com maior liquidez as reservas da companhia, além de recompor o capital do grupo em função dos investimentos feitos como preparativos para a viagem e desafios que estariam por vir. O pequeno caçador de tesouros ainda se maravilha ao caminhar pelo bazar flutuante. Os aromas de especiarias, incensos, perfumes e frituras, a música e o falatório tudo se mistura a um cheiro forte de maresia dos canais que cortam o bazar e às cores fortes dos tecidos e tapetes com abundância de tons metálicos e vibrantes.

Ao chegar na loja de Próspero logo cedo, Tass vê o comerciante abrindo seu estabelecimento.

Seu semblante melancólico parecia um pouco menos grave naquela manhã. Tass faz uma alegre reverência ao avistar o comerciante.

“Saudações estimado Próspero! Você tem muita sorte!!! Eu trouxe comigo os valiosos itens acumulados pela nobre Companhia do Milagre em suas aventuras!!! Escolhi o seu bazar para negociar a venda dessas preciosidades, com a anuência e meus companheiros de viagem!

Nas nossas próximas e futuras aventuras, infelizmente, precisaremos mais de moeda corrente do que deles! Por isso teremos que deixá-los com alguém que reconheça o verdadeiro valor de tesouros tão especiais!”

Tass pega o bag of holding e tira alguns itens, os mais vistosos, é começa a contar de onde vieram e como foi difícil conquistar cada um… completando as lacunas nas histórias mais antigas com muito heroísmo e bravura!

Próspero sinaliza para que seu assistente siga atendendo os demais clientes. Ele convida Tass para uma xícara de café mais no fundo da loja. Ambos se sentam nas almofadas, o cheiro do café temperado com canela os cerca. A medida em que Tass vai tecendo seus contos, ele nota que os olhos de Tass vão acompanhado suas palavras como se ele estivesse revisitando suas lembranças. Os olhos do halfing comerciante ficam cheios d’água quando Tass menciona de suas aventuras em Sahu junto à Companhia do Milagre e Tass sente que Próspero não está melancólico como de costume, mas nostálgico…

Tass continua mostrando os itens a fim de convertê-los em moeda mas ainda pergunta ao comerciante se teria entre suas mercadorias algo que pudesse ajudar Neurion no teste que virá… algo que possa melhorar os conhecimentos arcanos.

Próspero suspira…: “Eu tenho… Tive pensado muito em vocês ultimamente, sabe? A história de vocês me lembra muito a minha própria antes de ter chegado aqui. Antes da esperança de regressar para minha antiga casa ter me abandonado e eu ter tornado Dhiliz meu novo lar. Eu parti nesta vida de aventureiro para ajudar minha família em Faerun… você…você também é um halfling como eu…Você poderia me ajudar a completar meu intento?”

“Será uma honra!” – disse Tass

“Muito grato! Eu estaria disposto a dar a vocês como pagamento minha antiga pedra da sorte, desde que ela fosse retornada à família que me resta, meu sobrinho Nevil Littlefoot na cidade de Uthmere ao sul da Damara. Além disso, para ajudar a garantir que o Senhor Shadowlord tenha sucesso, – Próspero vai até uma prateleira com uma série de pequenos frascos e puxa uma garrafa com um xarope ferroso – leve esta poção de invulnerabilidade. Vai dar a ele uma boa resistência a qualquer tipo de dano, por 1 minuto.”

“Eu gostaria” – continua Próspero – ”que junto com a pedra, que é Herança de família, você entregasse para ele esta bolsa mágica. Nela coloquei alguns itens e algum tesouro que devem ajudar meu sobrinho na vida por lá. Posso contar contigo?”

“Isso vai ajudar bastante!!!! Senhor Próspero, garanto que a encomenda será entregue a não ser que esse halfling pereça em combate antes disso! Mas devo dar-lhe uma boa notícia: esse halfling aqui é imperecível!!!”

“HAHAHAHAHA” – Próspero solta uma gargalhada e toda a clientela fica estática e espantada. O próprio Próspero parece surpreendido com a risada.

“Muito obrigado, Senhor Tasseltuff! Vamos terminar o café então e iremos direto para os negócios! – diz Próspero sorridente –  Você e seus amigos têm de fato o poder de realizar milagres. Fazia uma década que eu não sabia o que era dar uma boa gargalhada!”

“Voltemos aos negócios meu amigo!”  diz Tass sorrindo.

Tau Akuna

Tau Akuna buscou as lideranças de Dhiliz para reforçar a importância da empreitada, auxiliar em planos de manutenção da rede e tentou fortalecer laços que poderiam ajudar a companhia na luta contra o rei bruxo eventualmente.

O paladino senta-se no pátio da universidade no tempo entre as aulas de midani para descansar e comer um lanche. No centro do jardim gramado ele vê crianças jogando um tipo de jogo com uma bola, onde apenas magias de “mão mágica” podem pegar a bola no chão e entregar para o jogador que a arremessa contra um adversário. A brisa quente da tarde traz o cheiro de esfirras e um doce aroma de mel e frutas da cantina. O jogo vai indo bem, com exceção de um menino maior, que deliberadamente abusava de sua força e habilidade superior para acertar a bola nos estudantes mais tímidos e mais franzinos. Quando uma bola acerta com mais força um pequenino adversário, uma menina do time adversário corre para acudir o irmão desacordado após receber uma forte bolada no rosto. Tarik, o garoto mais velho e seus amigos riem até que Nabila, a irmã mais velha do pequeno Rafiq, parte para cima deles, mas tem seu tapa subitamente interceptado pelo ágil movimento de Tarik, que com um sorriso de desdém grita para a menina erguendo sua outra mão espalmada: “Quem você pensa que é, menina??!”

“Ela é a protetora de seu irmão”, diz Akuna, em voz alta para que as crianças o ouçam.

Todos fazem silêncio e olham para Akuna com espanto. Tarik solta o braço de Nabila mas sua expressão muda de espanto para má intenção e Tau vê que ele se move para empurrar a menina no chão. O guerreiro de Tyr se move velozmente e segura o jovem Tarik com firmeza, mas sem intenção de ferir o menino. “Você é um menino forte, mas força física é só parte do que faz alguém grande. Sempre há alguém mais forte.” Ele olha para o menino quando seu olhar seguiria em direção à jovem, o paladino vê o medo nos olhos de Tarik. “me solta!” ele grita, enquanto tenta se libertar para correr para longe. O medo…  o medo traz uma memória horrível à mente de Tau e a culpa da decisão que tomou no passado o assombra refletida no olhar daquele garoto, Tau vê a espada de Kas tirar a vida da criança…. seria um demônio? era um demônio ou aquele bebê poderia ser sido salvo?…

A voz de Nabila desperta Tau, mas sem romper por completo a culpa que ainda permanece enevoando seu coração. A menina segura os braços de Tau e diz: “Deixe ele ir, moço…”

O paladino deixa o menino ir. Ele observa o jovem Tarik em disparada, decepcionado. Ele se ajoelha e diz para a pequena Nabila com um sorriso. “A verdadeira força está em auxiliar e defender aqueles que realmente precisam. Essa força inspira e fará com que outros se ergam ao seu lado, como fez comigo hoje. Acho que sabe disso, pequena. Você é poderosa! Uma pena que aquele menino não pôde ver isso.”

Tau se ergue e volta para o seu banco. Enquanto caminha, diz às crianças: “Se não se importam, gostaria de saber como o jogo de vocês termina. Continuariam a brincadeira?”

Nabila agradece ao Paladino. As crianças sorriem e recomeçam o jogo com a vitória do time de Nabila e do pequeno Rafiq. A vitória deles abranda um pouco o coração do paladino, mas um ranço de culpa ainda percorre suas veias, despertado ao ter revisitado seu passado.

Guerra, assassinatos e o destino de planos fazem parte da história do Paladino. Uma história que ainda não acabou. Momentos que passaram exigiram escolhas, algumas exigiram ação antes da razão. Apesar de não se orgulhar de algumas delas, entende que foram necessárias. Outros caminhos poderiam existir, mas não havia tempo ou possibilidade de ponderação. Só lhe resta fazer melhores escolhas no futuro. Tau termina seu lanche. E segue para mais uma de suas aulas.

Naugrin Battleforge

Na manhã de um dos seus últimos dias na cidade, Naugrin passeia por Dhiliz. Passa em frente ao palácio da Emira, vê as enormes estátuas de elefante em mármore branco que enfeitam a praça em frente ao palácio e seus pés o levam até uma mesquita com onde ele vê o símbolo de um Deus soprando uma lufada de vento.

Nos Jardins da mesquita uma anã o saúda. “Essalamb aleekon!” e complementa na língua dos anões “Bem-vindo irmão, à mesquita de Haku, o deus da liberdade! Me chamo Zeinab bin Haku, sou a iman desta mesquita e convido a todos a se sentirem livres para louvar Haku ou às suas próprias crenças dentro desta mesquita!” diz a sorridente anã de pele negra como ébano e cabelos trançados com contas azuis que combinam com sua túnica azul como o céu. “Que símbolo curioso, uma bota com uma maça”… “A que deus você segue?”

“Bom dia irmã anã” cumprimenta Naugrin com cortesia “e obrigado.   Esse é o símbolo de Marthammor Duin, o encontrador de caminhos, de quem sou servo.” – Naugrin se recorda já ter ouvido falar de Haku, um dos grandes Deuses de Zakhara, que prega a liberdade. Ele é o mestre dos ventos do deserto e considera que um indivíduo tem que ser livre para ser considerado vivo.

“Encontrador de caminhos! Espere, você então é um dos membros da cia do Milagre?” Diz Zeinab

“Que surpresa! Então você já ouviu falar de mim e dos meus companheiros!” Naugrin faz uma reverência “Nossas viagens nos trouxeram até Dihliz mas em breve vamos partir!”

“sim! Eu ouvi falar de vocês! A cidade inteira não fala de outro assunto! Muito interessante que seu deus Marthammor Duin o tenha feito encontrar seu caminho até aqui, justamente hoje, em que um pequeno milagre ocorreu em nossa Mesquita.”

“Um milagre? Que coisa incrível, não pode ser apenas uma coincidência que  tenhamos nos encontrado aqui. Conte-me mais por favor, o que aconteceu?”

“Sim! Me acompanhe” A imam vai caminhando pelos jardins e leva Naugrin ao interior da mesquita. A luz dourada do Sol preenchia em camadas às miríades de mosaicos e filigranas de outro que decoravam a arquitetura multi-facetadada do templo. Diversos fiéis faziam suas orações sobre tapetes em frente a um grande painel de mosaicos azuis no qual o rosto do deus da liberdade soprava um vento benéfico sobre os fiés. “Acordamos hoje pela manhã e as lágrimas estavam escorrendo dos olhos de Haku. A expressão do painel também mudou, para um ar de felicidade. Coletamos as lágrimas e elas tem propriedades mágicas!”

“Impressionante! Haku abençoou o seu trabalho aqui, sem dúvida. Você foi capaz de identificar as propriedades mágicas das lágrimas de Haku? Caso precise de ajuda nessa empreitada, sou proficiente na identificação  de relíquias sagradas. Caso seja necessário, com a Companhia do milagre viaja o mago Neurion, um especialista versado na identificação de propriedades mágicas de itens”

“Sim, de fato um milagre! Obrigada pela oferta, mas já notamos que as lágrimas conseguem incutir o heroísmo na alma de quem a toma! Estamos distribuindo garrafas para todos os fiéis e creio que nossos deuses queriam que você levasse algumas contigo.” A anã vai até um pequeno altar onde frascos com um líquido azul borbulhante estavam apoiados. “quantos são ao todo na sua companhia irmão Naugrin?”

“Somos sete companheiros ao todo, irmã Zeinab. Ficaremos muito gratos por levar essas dádivas de Haku em nossa jornada. Existe alguma coisa que esses viajantes possam fazer para compensar os servos de Haku pelo generoso presente?”

A iman traz 10 garrafas do líquido em uma pequena sacola e entrega para o clérigo e no momento em que sua oferta é feita, um anel prateado com o semblante de Haku na mão de Zeinab brilha e o pequeno rosto sopra a barba de Naugrin para o lado, revelando o símbolo de Morthammor Duin que também brilhava. Todos da mesquita olham e gritam “Milagre! Milagre! A profecia, Iman Zenib!” Naugrin percebe que seu deus e Haku parecem ter muito em comum. Zenaib sorri “Sim, irmãos! A profecia! — Os caminhos da ventura serão o prenúncio da liberdade e levarão os ventos de Haku soprando através dos planos —  Esta é a chance que Haku tem de provar que nada pode prendê-lo e tudo pode ser liberto para fluir e viver! Irmão Naugrin, este é um dos muitos itens sagrados de Haku, um anel de liberdade! Se puder levá-lo consigo até sua terra e entregá-lo um dia na mesquita de Haku na cidade de Gana, fortificaremos ainda mais a fé na liberdade do nosso povo. Acha que sua fé poderia ajudar a nossa?”

“Imã Zeinab” começa Naugrin com seriedade “Acredito que os ventos de Haku e as trilhas de Marthammor Duin estão seguindo na mesma direção. Aceito a responsabilidade de guardar comigo sua relíquia e entregá-la na Mesquita em Gana assim que for possível.”

Ventos alíseos rodopiam pela mesquita e trazem uma sensação de paz à todos os presentes. As lágrimas de Haku tornaram a rolar com o gesto de Naugrin.Zeinab faz uma reverência de agradecimento e entrega o item para Naugrin dizendo: “enquanto isso, que Haku, abra seus caminhos e o mantenha livre para seguir suas aventuras. Que você e a companhia façam bom uso deste anel.”

Todo ano, neste mesmo dia, novas lágrimas vertem do mosaico trazendo coragem e benção aos fiéis, neste que ficou conhecido como o Dia das lágrimas de liberdade. Tomos foram escritos, sermões e cantos proferidos das minaretas. Um mosaico foi inaugurado meses depois da partida de Naugrin e da Companhia do Milagre com o símbolo de Marthammor Duin portando o vento da liberdade de Haku.

Erevan Galanodel

Erevan nunca se sentiu à vontade em cidades. Mas algo no ar marinho e na luz natural que incidia sobre Dhiliz o fez sentir mais tranquilo. Ele se dedicou a prática de exercícios vigorosos vindos de um curso especial na universidade, acompanhou Farj e Tasseltuff em algumas incursões ao bazar, onde comprou alguns itens para sua auxiliar em sua proteção e aproveitou para estudar sobre a fauna e flora de Sahu.

Na estufa de botânica, trocou conhecimentos com o druida local, gnomo Khalil ibn khandieltuff, sobre sementes e plantas medicinais. Khalil fora de especial ajuda ao fornecer para Erevan um guia para cultivar árvores nativas, em um ambiente controlado e sobre como cultivar as sementes de um fruto muito especial.

Quando o grupo decidiu investigar as criptas dos antigos há quase um mês atrás, nas profundezas das ruínas de Moradask, Erevan decidiu ficar para trás para Purificar a podridão deixada no ambiente pela luta contra o Shoggoth e os mortos-vivos e investigar mais a fundo o ecossistema daquele mar subterrâneo. Fungos bioluminescentes, pequenos insetos e lagartos com enorme capacidade de camuflagem, os musgos carnívoros, os quais pegou algumas mudas e por fim, tornou a conversar com a planta Cor da meia noite.

Erevan estava fascinado com o poder e resistência da planta e solicitou dela uma forma de cultivá-la em faerun, a vinha disse que poderia fornecer-lhe alguns pequenos frutos, mas precisaria de mais nutrientes do que a terra da caverna poderia oferecer naquele momento. Com a ajuda do anel da floresta, Erevan abençoou o solo, deixando-o extremamente fértil e recebeu em troca uma série de amoras negras que reluziam como se um céu estrelado estivesse em seu interior. A cor da meia noite então lhe diz que estes frutos contêm muita magia e podem ser usados para diversos fins milagrosos. Ela pede que o elfo da floresta cuide bem deles e que tenha sucesso em cultivar novas mudas em seu grotão.

Erevan se pergunta como estaria a floresta que um dia fora protegida por seu falecido tio… se lembra de sua irmã mais nova e de como sempre discutiam quando crianças. Ela teria adorado conhecer a universidade de magia, os gênios… Uma saudade grande invade seu coração, junto com uma certeza de que faria o que fosse preciso para retornar à sua floresta para assumir o lugar de seu tio como protetor e, junto com aqueles que passou a considerar seus amigos, expurgaria a maldade de Zhenghy da face da terra, com as bençãos de Sylvanus.

Farj Al-Dhiliz

Farj passou seus dias em Dhiliz evitando olhar para os lados e cruzar olhares. Providenciou um véu para ocultar seu rosto e se vestiu da forma mais discreta que conseguiu. Ela não queria correr o risco de reencontrar sua família. A ideia de que poderiam estar ainda na miséria, sobretudo em função dos esquemas e maldições do efreeti que a assombrou por toda sua vida, era demais para a genasi. Um misto de ansiedade e culpa era acalmado apenas por seus estudos na universidade de magia a respeito dos Genasi e curiosidades sobre o plano do fogo.

Farj gostava de acordar antes do sol nascer para sentir a brisa vinda do mar invadir as ruas ainda vazias da cidade. Ela aproveitava para fazer compras para deixar seu inventário sempre preparado para a longa viagem que planejava. Finalmente iria mais longe do que qualquer um de Sahu ou Dhiliz jamais foi. Parecia um milagre que seus sonhos estivesse realizando.

Uma dessas brisas traz consigo um panfleto que se desprendeu de um mural na entrada do bazar. “Grande reinauguração das Casas Hazim! Estamos de volta com as bençãos da Fortuna!” Era um papel convidando a reabertura da loja de seu pai e madrasta.

De repente um estalo! Farj se lembra de sua professora de “Brincando com fogo II” – “É como se a maldição também virasse cinzas com a morte do Efreeti. Quando um gênio de fogo morre, aqueles amaldiçoados por ele podem voltar a prosperar pela força de sua própria vontade sorte” – Farj percebe então que sua família havia reencontrado o caminho para se reeguer e ser feliz em uma nova vida de abundância. Seus olhos vêem a data da inauguração e a inauguração parece de ocorrido há uma semana. Ela vê o novo lema das Casas Hazim e seu coração encontra a paz “Que os bons ventos da Fortuna te acompanhem!”

Fajr afixa o panfleto de volta no mural de onde ele tinha se soltado.

“Isso é seu?” pergunta uma senhora que saía naquele instante do bazar, ao vê-la prendendo o panfleto.

“Não mais,” a genasi responde com um sorriso tranquilo antes de dar meia-volta e se afastar, sentindo-se mais leve do que vinha se sentindo há muito tempo.

Enquanto caminha com passos ligeiros de volta para a Universidade, ela repassa mentalmente seus planos para o futuro. Durante o curso sobre o Plano Elemental do Fogo recomendado pelo reitor da Universidade, Fajr precisou recorrer mais de uma vez à rica biblioteca da instituição onde, como ela imaginara, havia vasta literatura disponível sobre todos os quatro Planos Elementares. O que ela não esperava era encontrar também tanta informação sobre a sua própria raça: Fajr descobriu que, apesar de todo o seu conhecimento sobre os seus ancestrais humanos e djinns, ela sabia muito pouco sobre si mesma. Depois de 25 anos como uma criatura exótica demais para ser humana e 6 meses como algo menos que um djinn, perceber-se como um ser completo em sua própria raça, com suas características únicas, pontos fracos e fortes, tem sido uma experiência gratificante.

Fajr toca levemente na Pedra da Boa Sorte que agora pende do cordão que antes trazia o amuleto de Zahirah; este agora está guardado junto com a adaga que seu pai lhe deu, lembranças que ela carregará sempre consigo mas que pertencem a uma vida que já não é mais a dela. O keffiyeh e a abaia que ela veste hoje também estão destinados a serem guardados na mochila assim que ela deixar Sahu, o que, espera, não vai demorar muito. Em Faerun, ela já decidiu, vai usar somente a armadura de couro reforçado que em Sahu fica oculta sob as vestes tradicionais. “Ou alguma outra coisa que eu comprar lá. Alguma coisa bonita,” ela murmura, sorrindo, ao pensar nos lenços coloridos que comprou no mercado mais cedo e que irão substituir o keffiyeh em breve. “Vermissa não tem ideia da encrenca que arrumou,” ela pensa, bem-humorada. “Eu sou capaz de arrumar um décimo selo para prendê-la bem presa se isso garantir a minha liberdade pra sair desta dimensão.”

Nem humana, nem djinn, ela pensa, cumprimentando os guardas com um aceno de cabeça ao atravessar os portões da Universidade e sentindo, com satisfação, as madeixas azuis ondulando suavemente, um tantinho a mais do que seria de se esperar da brisa leve que soprava. Uma air genasi.

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