Interlúdio: Emissários em Impiltur

Enquanto recitava as últimas palavras da magia, Erevan observava o resto da água benta em sua mão ser evaporada pelo fogo que ardia na ponta de seus dedos. O vapor restante serpenteou até as narinas de seus companheiros e logo eles começaram a flutuar, seus corpos transformados em uma massa de nuvens brancas e levemente transparentes.

Akuna, Tass, Neurion e Fajr acenaram para o resto do grupo e trataram de alçar vôo, pois mesmo na incrível velocidade dos ventos ainda levariam o dia inteiro para chegar em Lyrabar, a capital do reino de Impiltur.

Durante a viagem todos tiveram tempo de se lembrar das informações que Noran havia lhes confiado. Com quase 60 anos, Sambryl, a rainha-regente de Impiltur, era uma maga habilidosa, muitas vezes comparado à sua tataravó, a rainha Sambral.

Sambryl é a filha mais velha do rei Rilimbrar e da rainha Ilbritha. Como o casal real não teve filhos, Sambryl foi forçada a se casar com seu primo em segundo grau, o príncipe Imphras IV, que era o próximo herdeiro do trono. O casamento deles era apenas em nome e nunca foi consumado.

Quando Imphras IV e Rilimbrar morreram em um incêndio quase vinte anos atrás, Sambryl tornou-se o regente, governando no lugar de Soarimbrar, o Jovem, até que ele foi assassinado poucos dias antes de sua coroação, quando ele atingiu a maioridade. Ele estava andando por algumas fazendas perto de Lyrabar e todo seu séquito morreu com ele. Seus assassinos nunca foram pegos. O sobrinho de Soarimbrar, Imphras V, tornou-se o próximo rei, mas ele também não tem idade suficiente para reinar, e hoje Sambryl aguarda que o jovem atinja a maioridade para poder finalmente deixar a vida pública para trás.

A rainha Sambryl não gosta dos afazeres do governo. Ela é uma amante do conhecimento e considera a política cotidiana e os compromissos formais um tédio absoluto. No entanto, Impiltur é bem governada. Sambryl age voluntariamente como uma figura pública, deferindo seu poder ao conselho, os Senhores de Imphras II, doze descendentes indiretos do nobre fundador da Impiltur. Além de capitães do exército, são todos paladinos sábios e justos. O atual líder dos Senhores de Imphras II é Kyrlraun, um paladino tolerante e compassivo de Ilmater.

Depois de passarem sobre as montanhas Earthfast, com o sol já no final de sua jornada diária pelo céu, finalmente puderam avistar Lyrabar, uma cidade longa e estreita, estendendo-se por mais de uma milha ao longo da costa norte do Mar das Estrelas Caídas. Além de ostentar algumas das construções mais grandiosas e bonitas do reino, incluindo o Palácio Real e a torre dos Senhores de Imphras II, a cidade também é famosa na região por não possuir favelas ou bairros pobres. Os padres de Ilmater cuidam dos cidadãos mais pobres e se preocupam em manter seu bem-estar social.

Achando por bem se apresentarem formalmente, voltam à forma física perto dos portões e se apresentam aos guardas, anunciando serem emissários de Noran Nillenas-Belmaris Barão de Bloodstone e Duque de Ostel, Barão de Polten em exílio.

Impressionados com a longa lista de títulos, os guardas tratam logo de escoltar tão importantes visitantes até o Palácio Real, onde são recebidos pela rainha Sambryl e por Kyrlraun em uma sala reservada.

Quando as apresentações são formalizadas, Akuna entrega à rainha a carta escrita por Noran. Ela se senta em uma poltrona e passa alguns minutos lendo cuidadosamente a missiva, entregando-a então a Kyrlraun, que faz o mesmo.

“Vossa Majestade,

Durante anos Damara e Impiltur foram reinos amigos e de mútuo respeito e admiração.

O comércio entre nossos povos fluia permitindo o progresso contínuo de nossas sociedades.

Esses tempos felizes se foram com o invasão da Damara por tropas vaasianas.
Mas a maré está virando.

Os heróicos membros da Companhia do Milagre me retiraram de um exílio forçado que me foi imposto pelos traidores de nossa pátria.

Se não fosse por eles, hoje não seria Barão de Bloodstone, Duque de Ostel, a caminho de recuperar o título que me é de direito pelo nascimento como Barão de Polten e a caminho de reunificar a Coroa dá Damara. A eles devo tudo.

A alguns deles, que hoje se colocam em sua presença, pedi que entregassem está carta, através da qual rogo por ajuda.

Nossas tropas estão atentas e prontas para a batalha. A Cia do Milagre está conosco. Mas o perigo é grande. A cada dia que passa, minutos talvez, vaasianos se aglomeram ao norte do meu reino, prontos para um ataque final. O momento é de união para afastar de vez a sombra que paira sobre o norte de Faerun. Juntos, poderemos novamente singrar os mares do progresso e da paz.

Na esperança de que possamos contar com Impiltur nessa luta, despeço-me honrado por ter tão Majestosa Soberana no trono de um reino amigo e vizinho.

Noran Nillenas-Belmaris Barão de Bloodstone e Duque de Ostel, Barão de Polten em exílio.”

Com semblantes preocupados, os dois pedem mais informações sobre a situação na Damara e os planos do Barão Noran.

“Vossa Majestade, a Damara está sob a ponta de uma espada”, respondeu Akuna. “Como a carta lhe diz, um inimigo terrível soma forças ao Norte, pronto para avançar sobre a região e todas as terras além dela. A Morte busca nos eliminar a todos com artifícios da guerra e da intriga. Sem sucesso no passado pela via militar, ao longo dos anos, o inimigo envenenou os baronatos e ducados com aliados em posições estratégicas e uma intensa campanha de medo. Ele labora por uma Damara fraca, desunida, despreparada.

Não é o que encontrará. Nossas forças se organizam para derrotar esse Mal. O que o Rei Bruxo separou pelo temor e pela intriga, Noran busca restabelecer através da justiça e da liberdade do povo. A região unida seria capaz de barrar as forças do Rei Bruxo como fez nas últimas décadas. Ao lado das forças da Vida, como sei que a nobre Impiltur se posiciona, seremos vitoriosos.

Não é tarefa fácil. Ainda há vilões que espalham a discórdia na região. Vosso apoio ao pleito de Noran, um compromisso de aliança contra o Rei Bruxo, mandará aos nossos inimigos mensagem poderosa. Não há quem duvide da força e do compromisso pela justiça que Impiltur representa sob sua liderança e do Conselho.”

A rainha ouviu atentamente as palavras de Akuna com um semblante preocupado, mas ao final agradeceu pela visita dos emissários de Bloodstone e indicou que Kyrlraun seguiria com a reunião, e que confiava em suas decisões.

Depois que a rainha se retirou, Kyrlraun convidou o grupo para acompanhá-lo até a Torre dos Senhores de Imphras II, onde encontrava-se a sala de guerra do reino.

A torre era uma construção magnífica, talvez até mais bela do que o próprio palácio, se o admirador tivesse uma predileção por bronze e esculturas de basalto. Na sala de guerra uma grande mesa de madeira negra podia acomodar 13 pessoas (os doze membros do conselho de paladinos e seu governante), e Kyrlraun pediu para que todos se sentassem.

Um escudeiro logo trouxe diversos mapas da região, onde puderam analisar onde deveriam estar as forças da Vaasa, da Damara e qual poderia ser a melhor maneira de Impiltur ajudar as forças de Bloodstone.

Kyrlraun confidenciou que sua maior preocupação nos últimos tempos era a situação em desenvolvimento em Damara, mas que nem todos os outros membros do conselho compartilhavam de sua opinião. Quando a Damara caiu no Vau do Goliad, muitos lordes de Impiltur lamentaram sua paralisia política, mas acabaram optando pela paciência e discrição, temendo as consequências de irritar o poderoso Rei Bruxo.

Ele reconhece que precisa convocar o conselho para tomar qualquer decisão. Rilimbraun e Limbrar estavam nos arredores da capital, mas Haelimbrar encontrava-se na cidade de Laviguer. Silaunbrar e Rilaunyr encontravam-se em Sarshel. Imbra, Silmgar e Lashilaun estavam em Hlammach. E Imbraun, Soargilm, e Sambrar estavam em Dilpur.

Ele precisaria de pelo menos 10 dias para reunir todos os membros do conselho, mas prometeu que defenderia a posição de que Impiltur deveria declarar seu apoio às forças que fazem oposição à Vaasa. Estava confiante de que conseguiria o apoio dos outros conselheiros.

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