Sentado no alto da torre, com as pernas balançando, Numspa observa o firmamento.
“Sei que foi escolha deles, mas será que fizemos a coisa certa ao deixar Ozzo e Marco em Ysawis? Apesar de podermos ver a lua e as estrelas, sinto uma opressão tão grande quanto a névoa eterna da Baróvia. Se lá a penumbra eterna era um prenúncio da maldade que ameaçava aquelas florestas sombrias e cheias de horrores, aqui em Sahu a fúria constante do sol, que queima até o fundo de nossa alma e projeta sombras na direção errada, não deixa nada a dever para os reinos do demônio Strahd.
Para onde a gente vá só vemos ruínas assombradas pelos espíritos dos mortos, necromantes e toda sorte de criaturas das trevas. Por mais que minha mente se apegue à promessa de voltarmos para casa, meu coração teme que Dihliz e seus acadêmicos não passem de uma miragem de sombras, mais uma ruína de horrores escondida sob mais uma fina camada de maravilhas e encantos.
Temo por meus irmãos no monastério, e pelos amigos que deixei nos becos de Heliogabalus. Quero que esse tal amuleto realmente mostre o caminho de folta para Faerûn. Mas a que custo?”
O monge se levanta e anda até o outro lado da torre, tentando adivinhar em que direção fica Ysawis.
“Preciso confessar que eu mesmo considerei permanecer em Ysawis. Vou sentir falta de Ophidia, mas creio que nossos caminhos não estavam destinados a ficar entrelaçados por muito tempo. Me coloco em seu lugar, amaldiçoada a permanecer em Sokkar por toda a eternidade e de uma hora pra outra estar livre, como todo o mundo. É como dizem lá na Damara, a liberdade é incompatível com o amor, quem ama, é escravo. E quem sou eu para privar alguém da liberdade?”
Abaixando a cabeça, agora meio cabisbaixo e com o coração pequenininho, Sardo deita no teto da torre e se perde olhando para as estrelas.